TERAPIA DE CHOQUE
(FINAL)
AVISO: se você ainda não leu a primeira e a segunda parte, o sentido do texto a seguir ficará prejudicado.
Sugiro a leitura da "Terapia de Choque (parte 1) e (parte 2)" antes de prosseguir.
Entra a paciente.
- Sabe doutora, gostaria de lhe dizer uma coisa que me perturbou muito. A senhora pode imaginar o que é?
- Sim! A senhora acha que pensa!
- Ah, doutora, tantas coisas passam pela minha cabeça...
- Posso imaginar, com muito esforço, mas se bem me lembro a senhora ia me contar sobre algo que a perturbou.
- Ah sim! Obrigada por me lembrar.
- É para isso que estou aqui. Para lhe ouvir.
- Engraçado, eu pago a senhora para me ouvir!
- Sim. Esse é o preço que se paga pela surdez precoce! Mas, voltando ao que a perturbou...
- Então, doutora Sigmunda, eu tentei pintar um quadro. A senhora havia me dito que eu tinha um pintor frustrado na alma e...
- Sim, senhora Jocasta, mas era pintor de parede. Vou explicar uma coisa. Aqui tudo é muito simples, não queira se aprofundar. Pode ocorrer uma pane em seus neurônios!
- Ah... talvez por isso ninguém entendeu meu quadro mas falaram que as cores eram bonitas.
- Então, mais uma vez, minha interpretação se confirma. A senhora entrou em surto psicodélico operatório-plástico, claro! Mas fique tranqüila, nunca chegará ao nível simbólico-lírico.
- Acho que não entendi nada novamente.
- Certamente.
- Doutora Sigmunda, não consigo mais pensar!!!!!!!!
- Maravilhoso!!! Continue assim e poupe a humanidade de seus pensamentos. A senhora tem certeza que não consegue mais pensar?
- Acho que é a única coisa que eu tenho certeza aqui.
- Então seu tratamento chegou ao fim.
A paciente sai.
Sigmunda Fuad relaxa no divã antes de atender o próximo paciente. Olha para o quadro de sua mãe, Melanie Kalil, e se defende:
- Não me olhe assim!!! Eu não cobrei o adicional de insalubridade psíquica reincidente, mommy!
- A menopausa está mexendo muito com você, Sigmunda. Que tal fazer uma reposição hormonal, minha filha?
- Você está com inveja do meu talento transbordante, mommy!
- Transborda mesmo, minha filha...
(*) Imagem: Google
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