DOLCE VITA
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                                  QUEM RI POR ÚLTIMO...






Esta é uma daquelas histórias que a gente testa o grau de liberdade ao escrever. Não é simples publicar passagens ridículas, mas profundamente humanas, como esta que narro a seguir.


Costumo brincar ao dizer que Deus deu uma chance a minha mãe. Na maternidade, quando nasci, a enfermeira, por engano, me entrega à outra mulher. 


A troca foi desfeita assim que a minha mãe pegou o outro bebê no colo (e a identificação nos pulsos maternos e dos bebês estavam ali para provar o estranho erro da enfermeira).


Muito anos depois, passei por um período dificílimo (eu sei, sou especialista neles!) e minha mãe não sabia mais o que fazer.


Um dia, alguém fala para ela:


- Esse homem é um sábio! Ele há de dar uma resposta para esse momento tortuoso! Aqui está o endereço! Cheguem às seis da manhã e ele atenderá vocês!


Minha mãe devia estar tão estressada que simplesmente não pensou. Lá fomos nós. Em plena madrugada, atravessamos a cidade e, conforme a orientação dada, às seis da manhã, estávamos no local.


Esperamos na calçada, sem medo, porque outras pessoas estavam ali, provavelmente pelo mesmo motivo: ausência de pensamento, também conhecida por desespero.


Após aguardarmos, uma hora e meia, na fila dos "caçadores de respostas perdidas", chega a nossa vez. Entramos na sala do homem sábio que nos mandou sentar em frente à sua mesa.


Assim que nos acomodamos nas cadeiras, ele nos observa com o semblante apavorado e pergunta:


- O que vocês trouxeram?!


Sem entender a indagação, olhamos, ao mesmo tempo, para as bolsas, em nossos colos. O único sentido possível era o concreto, afinal, nem minha mãe, nem eu dominávamos a linguagem da sabedoria, aparentemente, milenar, daquele homem.


Sem obter resposta (o que poderíamos dizer?), ele pega um bloco de anotações e lápis. Passa a escrever, desenhar e falar ao mesmo tempo! O ritmo vertiginoso, lembrava aqueles filmes antigos, onde a velocidade da ação aumenta para dar maior sentido cômico à história.


Detalhe: os desenhos eram abstratos, indecifráveis, semelhantes, talvez, a hieróglifos. E o homem falava numa espécie de idioma que fez o grego parecer minha lingua preferida no jardim da infância.


Não seria difícil definir nossa sensação ali. Minha mãe e eu havíamos entrado em um sarcófago e nos tornado duas múmias em busca de respostas.


Resumo da ópera: o homem falou durante meia hora, em dialeto desconhecido, desenhou símbolos que não temos a menor idéia do que era, embora neste instante, ao relembrar o fato, imagino um mapa do tesouro, daqueles filmes de pirata!


Então, finalmente, o "homem-oráculo" disse:


- Todas as respostas estão aí! Basta ver! Entenderam tudo direitinho, não é!?  Muito simples! Podem ir!


Olhamos o papel repleto de símbolos misteriosos e completamente sem nexo. Concordamos em sinal de educação. Era o que nos restava. E saímos de lá.


Ao entrar no carro, as gargalhadas foram inevitáveis. E rimos com uma inesperada sensação de liberdade.


Acho que aquelas gargalhadas eram tão verdadeiras que surtiram efeito.


Nunca mais nos atrevemos a deixar de pensar um problema!







(*) Imagem: Google

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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 28/05/2009
Alterado em 21/09/2009
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