ESCREVER
Nada é mais tolo do que definir este ofício, mas é inevitável escrever sobre escrever.
E é por isso que escrevo. Uma urgência de expressão. Quero a liberdade de quem não se limita ao que existe. Há um mundo a ser reescrito todos os dias. Em cada papel em branco, na tela vazia do computador.
Então, no lugar de "era uma vez"...
... hoje, a história ficou assim...
Escrever é um ato de amor que dá à luz a palavra em inúmeras vidas.
Numa destas reencarnações do sentido, a palavra representa o corpo da pessoa amada. Há uma espécie de erotismo que liga a inspiração ao que é escrito. Não importa se em verso ou prosa.
Nesta hora, o escritor, envolto numa carícia feita de sílabas, encontra um sentido para amar tanto.
Quando o amor é interrompido ou inacabado ainda terá abrigo. E nas entrelinhas a dor ganha colo.
O aconchego coloca um ponto final na agonia e a solidão é dissolvida no abraço da palavra. Pontes construídas sob rimas ligam o afeto a um soneto ou quem sabe, um atalho, no fragmento de uma crônica.
O sentido desata o nó da garganta. E a saudade se debruça no parapeito de um romance.
Nem sempre escrever dói, mas exige coragem. E entrega.
Entender a linguagem do corpo da palavra é mergulhar em um oceano de frases que narram histórias. E contemplar suas cores no horizonte, onde os parágrafos pincelam a existência numa tela de letras.
Nada é mais generoso do que o papel em branco ao receber cada uma destas palavras. O pensamento em carne viva pode, enfim, respirar.
Quem escreve recria o mundo para traduzir o que não coube lá fora, nem dentro de si mesmo.
Escrever eterniza o que tocou a pele e atingiu a epiderme da alma.
E é por tudo isto que, um dia, quando eu crescer, quero ser escritora.
(*) Imagem: Google
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