- Querem acabar comigo! É muito estressante!
A outra avenida não entendeu nem mesmo como se cruzaram no trajeto dessa história, mas mostrou-se receptiva em uma de suas faixas:
- O que quer dizer, Paulista?
- Ora! O que quero dizer? Sou uma avenida de respeito! Represento esta metrópole! Tenho história!
A avenida Liberdade sentiu que poderia congestionar-se rapidamente com o discurso vaidoso da Paulista. Por isso, tratou logo de cortar caminho:
- Será mesmo que não tem tempo a perder? Até agora não disse nada!
- Minhas vias de acesso estão dificultando o raciocínio! Espere! Os sinais vão abrir!
A Liberdade precisou de toda paciência oriental e agradeceu aos deuses da geografia por estar localizada ali.
Enquanto isso, Paulista, como sempre, estressada com o movimento, digitava um e-mail ao celular para seu advogado, lido em voz alta em tom de protesto:
- Não tolerarei mais as piadas em todas as esquinas, inclusive na contramão e em cruzamentos perigosos! Não quero mais ouvir que sou igual a todo casamento porque começo no Paraíso e termino na Consolação! Basta! Exijo respeito!
Por isso, ordeno que entre com um processo por danos morais! Atenção ao sentido único: "Eu, Avenida Paulista, declaro que tenho um caso de amor possível!".
A Liberdade bocejou antes de retrucar:
- Um só, né? Deixe-me adivinhar! Sampa!
Avenida Paulista não escutou. O sinal abria novamente ao som de muitas buzinas!
(*) Crédito Imagem: Capa elaborada pelo Site Mojo Books para este texto inspirado na música de Caetano Veloso: Sampa.
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