Textos
BRASILEIRA CRÔNICA
Viver em um país onde não se sabe mais se, ao sair de casa, retornaremos em segurança para nossos lares é uma tarefa árdua.
Não é fácil ser brasileira.
Há uma passividade geral que ronda os dias e as mentes de cada um na fila dos ônibus, no metrô, no congestionamento quilométrico dos carros e nos trens suburbanos (e subumanos).
As residências parecem encasteladas por muros altos e grades. O medo brilha no olhar do transeunte ao escurecer, na rua sem iluminação, após décadas de promessas nas campanhas políticas.
E assim permanece: sem energia ou saneamento básico. Sujeita a inundações quando São Pedro anuncia suas águas generosas.
Há algo que, além de brilhar, treme! A ansiedade do temor ao observar um estranho correr do outro lado da rua.
Será um ladrão ou somente alguém atrasado? Quem sabe, exercitando o corpo?
Foi embora. Não é nada. Respiro fundo e vida que segue.
E se meu vizinho perder a família em um assalto? Aumentarei ainda mais o muro da minha casa? Afinal, não é comigo?
Em cada crime, brutalidade, atos de corrupção silenciosos e impunes estou ali. Calada. Ausente. Cúmplice por não reagir. Finjo que não é comigo.
Este silêncio não é pior do que os atos que deveriam causar indignação e repulsa?
Entretanto, não vou sair do Brasil. Espero que o Brasil não desapareça de mim.
Que país é este? Além de suas cores verde (de medo) e amarelo (de inanição)?
É tempo de festa junina!
A aquarela tornou-se refém da "quadrilha" brasileira?
Diz o slogan: "Sou brasileiro e não desisto nunca!".
Talvez porque só desiste quem tenta!
É comigo, uma brasileira crônica?
(*) Imagem: Google
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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 23/06/2009
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