DOLCE VITA
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                                           EU SOU VOCÊ HOJE


 


Meu avô costuma dizer que todo ser humano tem direito a 17% de loucura. Não me olhe assim!


Desconheço os critérios de seu cálculo e não me atreveria a desvendar os motivos que o levaram a esta equação psicológica. Precisaria comer muito quibe e esfirra se quiser me aproximar da maneira sábia que meu avô exibe ao refletir a vida.


Sorrio ao questionar qual seria o "índice" da minha loucura.



Tantos estão mais preocupados com cálculos calóricos, massa corporal, dieta de pontos, enfim, outras porcentagens. E eu aqui, preocupada com meu país. E nestas horas, não sei se extrapolo ou deixo muito a desejar, nesta margem que a lucidez pelo avesso, da teoria de meu avô, permite.


Vivo em um lugar onde a lógica foi para o espaço há muito tempo. Não temos memória. Por isso as incoerências e impunidades permanecem inabaláveis. Facilitamos demais a vida dos políticos. Não reagimos porque nem lembramos o que somos.


E não lembramos porque ser cidadão implica em entender que o outro sou eu. Se o outro não tem saúde, transporte, educação, segurança, cultura, saneamento básico, etc. e tal, significa que eu também não tenho.


Se alguém destrói um telefone público e uma pessoa deixa de fazer uma ligação em busca de socorro, poderia ter sido o meu pedido de ajuda a não ser ouvido.


Se o carro é blindado e na outra esquina alguém com o vidro aberto é atingido por uma bala perdida de que adianta imaginar que está salvo?


Podemos blindar tudo ao nosso redor o tempo todo?


Afinal qual é a nossa maior loucura?


Tenho, segundo meu avô, direito a um percentual. Então, segundo os meus "17% de loucura" imagino que seja não entender que cidadania é o exercício de nos colocar no lugar do outro porque ele também sou eu.


E você pode ser ele.



Se a sociedade civil não está protegida por uma rede eficiente de saúde, educação, cultura, segurança, transporte público, enfim, tudo que torna a qualidade de vida do cidadão possível, nunca estará protegida.


Nem pela cidadania, muito menos pelos vidros blindados.




(*)
Imagem: Google

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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 25/06/2009
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