DOLCE VITA
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                                 UMA GRANDE MENTIROSA
 



 
Federico Fellini declarava que sua função enquanto diretor de um filme seria conduzir o espectador até uma estação. O embarque na história a ser contada depende do vagão de trem escolhido, de acordo com a bagagem pessoal.

 
E o escritor? De que forma conduziria o leitor até a estação do sentido?

 
Diante de uma história a ser contada, quem escreve deveria garantir que seu leitor chegasse a tal estação e escolhesse o vagão de trem em liberdade?

 
Estarei como escritora consciente de que não controlo nada a partir do instante em que um texto é publicado?


Como se dará essa convivência com o olhar livre do leitor, principalmente quando não imaginei um ponto ou uma vírgula sequer, na leitura feita sobre um texto?


E muitas vezes luto para não ficar "traduzindo" o que tentei dizer, mas sempre acabo com uma explicação! Até em piada e poesia já coloquei legenda! 

 
Estarei preparada para este diálogo absolutamente livre (ou sua ausência diante da incomunicabilidade) entre o que escrevo e o que é lido?
 

E capacitada a compreender que posso não ser a escritora que gostaria nem comunicar o que desejo?


Seria como fracassar e não conseguir conduzir meu leitor até a estação do sentido?
 

Onde enxergo e deposito valor, o leitor tem o direito de não ver coisa alguma, além de uma sensação de fragilidade, simplicidade, mera repetição de clichês, mais um texto sem nenhum atrativo consistente. 

 
Entretanto, posso surpreender! E finalmente entrar em uma seara nunca antes experimentada! E provocar terror! 

 
Meu texto pode ser tão ruim e causar náusea em algum leitor de boa fé e completamente desavisado. Iludido com o pseudônimo "Dolce Vita".


Nesta crônica, por exemplo, imagino os leitores como passageiros de navio, mareados, suando frio, enjoados a cada linha. O suplício em ondas e rodeios até o próximo parágrafo: 


- Ora, ora, mas onde está a vida doce e leve? A alegria e fluidez?


- Afinal, o que ela quer dizer? Aonde quer chegar? Quando é que veremos terra à vista? 


- Essa mulher é uma chata! Escreve, escreve, escreve e não diz nada!


- Pois é! Entrei aqui para relaxar! E estou traumatizado!


- E eu? Queria respostas e só existem perguntas e mais perguntas sem nenhum sentido!


- Olha aquele lá, coitado, no segundo parágrafo e  franzindo a testa de desgosto!


- Deve ser sinal de desalento: nada de novo no ar!
 

- Essa "Dolce Vita" é uma grande mentirosa! 

 
- Enroladora! Uma fraude, isso sim!
 

- Pelo amor de Deus, quero desembarcar dessa crônica, como faço?
 

Não leia. 





(*)
Imagem: Google


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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 10/07/2009
Alterado em 10/07/2009
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