DOLCE VITA
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                                  A DONA DA HISTÓRIA



 
Escrever uma história pode ser o auge da liberdade. E nesta ausência de amarras observo que muitas das criações passam por um interessante processo de interpretação do leitor.

 
Alguns enredos simplesmente permanecem em aberto. Não há um final específico. Pelo contrário. Algumas histórias se encaminham livres principalmente ao terminarem.

 
E esta abertura do sentido parece gerar uma curiosidade insatisfeita, outras vezes, quase uma frustração.
 

Muitos leitores desejam saber, afinal, o que aconteceu ali? E lá? Por que não apareceu tal coisa? E as lacunas devem gerar algo muito semelhante à insegurança que o ser humano vive no seu dia a dia.

 
Nunca sabemos o que nos espera na próxima esquina. O que será de cada um de nós amanhã? O que o destino nos reservará?

 
Simplesmente não sabemos. Nossas vidas são exatamente como estas histórias que permanecem incertas, sem explicações definitivas, afinal somos "obras abertas" até o derradeiro final.

 
Você já reparou como uma criança pede exaustivamente aos pais que repitam as histórias? E tudo precisa estar absolutamente igual, do começo ao final. Não ouse alterar o sentido, nem deixar algo vago. A criança necessita sentir-se segura através da repetição do enredo com começo, meio e fim. Existe nesse processo algo que a acalma. Talvez o "antídoto" para a ansiedade diante daquilo que não conhecemos nem controlamos.

 
Ao repetir estes enredos passamos a ilusão de um domínio: os donos da história possuem as rédeas e o controle. E uma criança sente que está segura ao lado deles.
 

Nas minhas histórias busco entender e suportar as lacunas.

 
E geralmente me agrada mais o que deixei de dizer em uma criação, para dar ao leitor a liberdade de entender o que bem quiser, por um lado, enquanto por outro, devolver esta questão que passa essencialmente por nossa humanidade.

 
Afinal, suportar não saber o que virá a seguir ou o que nos espera faz parte da existência.
 

E eu escrevo sobre a vida. E não tenho a menor idéia do que me espera na próxima esquina. Seja do meu caminho ou do sentido.
 
 
 



(*) Imagem: Google


http://www.dolcevita.prosaeverso.net
 

 

Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 29/07/2009
Alterado em 07/11/2009
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