DOLCE VITA
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RIMA DESGASTADA DO AMOR





Escrevo esta crônica para refletir alguns sentidos que envolvem a desgastada rima: "amor e dor".


Para falar desta combinação, recorro a uma das experiências mais perturbadoras que o cinema me proporcionou. E acho que ali reside um dos possíveis fios do sentido para entender, afinal, o que esta rima tão antiga provoca? E por que amor e dor rimariam?


Quando assisti ao polêmico filme de Bernardo Bertolucci, "Último Tango em Paris", entendi como é difícil ao ser humano reconhecer os caminhos da dor.


Na época do seu lançamento, não se falava em outra coisa, além das cenas de sexo e erotismo.


Entretanto, o essencial no filme é o vazio. Diante do suicídio inexplicável da esposa, um homem devastado pela dor, sente que foi "abandonado".


O sentido esvaziado de sua vida o coloca no caminho de outra mulher.


O cenário dos encontros entre este homem e a desconhecida é um apartamento também vazio.


A cenografia da alma à deriva, sem referências.


Os personagens usam o sexo como a única ponte de comunicação. São dois estranhos, sem nome ou história. Seus encontros passam unicamente pelo corpo que busca a anestesia do prazer físico, enquanto a alma lateja em dor.


Após algum tempo, nasce a curiosidade. Afinal qual o nome daquele homem? Quem é ele? O que gosta de fazer? O que pensa? O que detesta?


No início, o personagem, vivido magistralmente por Marlon Brando, determina a condição dos encontros: o vazio das informações. Nenhuma referência entre eles.


Então, a frase que parece descortinar um horizonte de reflexões é dita:


- A dor começa com o nome.


Na visão do personagem, todo o sofrimento que experimentava havia iniciado com o nome de uma pessoa. A origem da dor teria ali sua primeira marca. Através deste símbolo da identidade criamos vida. Entramos na história de alguém. E com este nome, um mundo. Lugares, passado, músicas, outras preferências e lembranças formam o mosaico amoroso.


O vazio seria, então, preenchido pelo outro. E a dor, outra vez, por sua ausência.


Amor e dor rimam quando as tais referências construídas (iniciadas com um simples nome), são arrancadas por acidentes fatais, abandonos, separações traumáticas onde a identidade entrelaçada à alma é subitamente rompida.

 

Nestes casos, a rima desgastada acontece. E o nome do amor é a dor.




(*) Imagem: Google

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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 10/08/2009
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