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ELA VESTE VERMELHO
A cor é um símbolo geralmente associado a emoções. Por isto, esta crônica veste vermelho para propor um breve mergulho neste tom onde arde o desejo.
Duas questões banham minhas idéias:
- por que nos apaixonamos por aquela pessoa ali e não outra?
- como a paixão desagua no amor?
Dois ingredientes combinados parecem exercer intenso reflexo na paixão: o que nos parece familiar e o desconhecido.
Por um lado um olhar, uma voz, a maneira de andar e até sorrir podem evocar antigas lembranças. Ao encontrar a pessoa amada nos sentimos "em casa". Um aspecto em nossa memória afetiva é revivido ao nos apaixonar.
Neste sentido, "recordar" é vestir o tom vermelho da paixão.
Este é o sentido "especial" desta cor intensa. Os sinais coincidentes nos aproximam. Aliás, as coincidências ganham uma força extraordinária nestes encontros. E passamos a traduzi-las como "sinais do destino".
Por outro lado, o que é diferente de tudo que conhecemos exerce forte poder de atração. É uma onda vermelha igualmente arrebatadora.
Se o casal souber dosar os dois lados da balança (o novo e o conhecido) essa paixão poderá evoluir e tornar-se amor. Caso um dos pratos da balança desequilibre (tornando tudo extremamente familiar ou absolutamente inusitado) a paixão é consumida. E acaba.
Há quem acredite que este sentimento confere imaturidade. Com a experiência buscamos as semelhanças. A atração entre os opostos complementares seria suplantada pelas parcerias baseadas nas afinidades.
No entanto, para que o amor aconteça é essencial uma nova nuance desta cor avermelhada: a aceitação de que o outro existe independente de nós. Ele não é a personificação do nosso desejo. Nem o que pode nos lembrar ou reviver na memória afetiva.
O outro é alguém por si só. Não nos fundimos nem nos confundimos, a não ser em fantasia e na busca pelo prazer que nos distraia da condição individual. E em muitos casos para negar nossos vazios e lacunas existenciais.
Esta é a questão dos limites que separam os tons vermelhos na paixão e amor. Uma tonalidade "fechada" reflete a paixão e o sentido é da fusão. Projetamos nosso desejo e só enxergamos aquilo que nos interessa.
No amor esse tom parece abrir-se com maior luminosidade. Não é mais um vermelho tão intenso. E o sentido é da existência anterior e independente. A aceitação de uma história que vem sendo escrita muito antes da nossa entrada nela e o convívio, muitas vezes, com os frutos de passados afetivos, como por exemplo, vínculos, principalmente filhos, família e amigos mais íntimos.
E a questão amorosa se deixa tingir em outro tom de vermelho: o reflexo do limite que me diferencia do outro.
(*) Imagem Google
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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 13/08/2009
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