DOLCE VITA
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                           UMA CRÔNICA NA CONTRAMÃO





Alguns textos nascem aos poucos. Este parece ter levado, pelo menos, duas décadas para vir ao mundo. E acho que só nasceu agora por que minha sobrinha, outro dia, perguntou:


- Por que você é sempre gentil com as pessoas?


Perguntinha complicada! Vou tentar responder...


Muitas pessoas adoram confrontos. Algumas vivem deles, simbolica ou literalmente. Parecem almas prontas para o eterno duelo. Admiro tamanha disposição para os embates. Gente assim me faz lembrar os gladiadores.


Há algo na agressividade que tanto merece o mérito do valor como o cuidado do controle. É uma questão complexa. Sem a força óssea e muscular, por exemplo, a sustentação do corpo é impossível, mas sem ternura podemos quebrar a alma pela severidade do caráter.


E então, o foco desta crônica se desloca para um exercício pouco praticado e essencial nas relações civilizadas: a gentileza. Sem os traços da cortesia não há possibilidade de comunicação baseada em respeito.


Confesso que nem sempre esta qualidade dominou minha natureza.
Aos vinte anos era uma "perfeita estúpida". Acho que deveria ter um milhão de receitas, respostas e acreditava piamente que a razão estava ao lado de quem berrasse mais alto, até perder a voz, mas não fugia de uma discussão. Por mais ridícula que fosse!


Se você imagina que era teimosa, gentileza tua! Obstinada ainda é um tanto suave, perto do que fui...


Embora as pessoas permaneçam se referindo a mim como uma "menina", o tempo passou (literalmente) a representar um valor. Devo ter aprendido alguma coisa. E por isso, aviso: não contem comigo em monólogos travestidos de diálogos de surdos, onde os interlocutores não querem, nem estão abertos a compartilhar suas idéias, mas a impor verdades!


Meu tempo é precioso demais para ser desperdiçado com quem acredita em monopólios. E abomino quem colecione respostas e certezas (aliás a loucura é feita delas). Não sei quase nada da vida. E esse não saber me ajuda a entender a dimensão da minha humanidade e dos meus limites.


Se minha natureza é gentil e fora de esquadro, em tempos egocêntricos e extremamente competitivos, pago o preço. Nado contra a corrente e confesso, gosto disto. Prefiro contrariar o que é esperado de mim a ser o que não sou ou o que acham que devo ser.


Entretanto, apesar de gentil, não sou previsível. Mudo de idéia (aliás, experimente! Recomendo! É ótimo!). Mudo de ritmo. Mudo de ares. Mudo mais do que imagino! Nem sempre consigo me acompanhar. Algo parece estar o tempo todo além de mim. E é através do que me escapa que estas frases surgem na tela. Talvez, o que tenha de melhor apenas a palavra conheça.


Será que respondi a pergunta da minha sobrinha ou continuei apenas gentil?






(*) Imagem Google

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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 18/08/2009
Alterado em 18/08/2009
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