Textos
O ESCRITOR, O TEXTO E O COMENTÁRIO
Essa crônica não pretende concorrer a nenhum passaporte para o exílio no Reino da Antipatia. É apenas uma reflexão sobre as fronteiras entre quem cria e sua criação. E o que estaria, em tese, aberto ao comentário crítico e literário.
A crítica construtiva costuma apontar a falha, lacuna ou o que está fora de esquadro em um texto. E esta sinalização auxilia o autor a refletir sua própria obra. E concordar, discordar, alterar e se quiser até ignorar a contribuição do olhar crítico.
Essas possibilidades, a meu ver, exercitam a liberdade.
Comentar um texto também é transitar na preferência. E expressar o quanto gostamos (ou não) demonstra o valor conferido. Entramos no terreno dos elogios ou nas afirmações contrárias.
Entretanto como entender o comentário que não passa pela criação, nem pela preferência (gosto pessoal), mas apenas pelo autor?
Por exemplo, em um conto alguém comenta exclusivamente o impacto dos olhos da foto do perfil do autor. Não quero com isso delimitar o que pode ou não ser dito. Essa é uma questão que não passa pelo meu controle nem desejo. É apenas mero exercício reflexivo.
Como o autor deveria interpretar esse comentário?
As características físicas, assim como os "diagnósticos" em relação ao autor de um texto, não agregam sentido nem valor (positivo ou negativo) a sua obra.
Como é possível que a leitura de uma criação literária leve alguém a detectar distúrbios psiquiátricos e sugerir comportamentos das mais variadas ordens, com tanta facilidade e sem exercer a profissão? Ou ainda uma suposta intimidade com o autor absolutamente infundada?
Entretanto o comentário permanece aberto e livre. E deve ser assim em relação ao texto.
Várias vezes ouvi que apesar de ser mulher sabia o que era humor. Ou então, que conseguia escrever sobre o vazio existencial.
Como assim? Apesar de ser mulher?
Estou longe de ser feminista! Vejo o valor do ser humano. E suas lutas igualmente.
Gostaria de imaginar, pelo menos, o mundo criativo sem tantos preconceitos. Que a criatividade fosse algo claramente diferenciada do delírio e da alucinação.
Que pudéssemos criar sem o rótulo de "loucos alucinados".
Não tenho nada contra os loucos. Nem contra os alucinados.
Entretanto há uma diferença abissal entre uma oficina criativa de portadores de distúrbios de personalidade e escritores mergulhados em criatividade.
Confundir o sentido literal com o simbólico é o primeiro passo para distorcer a criatividade.
A liberdade criativa não pode nem deve ser rotulada com as amarras do juízo. Há um mundo de coisas reais a serem "taxadas".
Deixemos a imaginação fora das correntes que cortam, rotulam e engessam o sentido.
P.S.: O comentário é livre e aberto. Esta é apenas uma crônica. (Mais uma).
(*) Imagem: Google
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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 02/09/2009
Alterado em 04/09/2009
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