DOLCE VITA
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OUTRAS ÁGUAS DE MARÇO








Dois anos depois, novamente diante deste mar, escrevo...


Rio diverso da Cidade Maravilhosa, "meu" Rio de Janeiro começava no final de março. Dia de festa. Noite de mudanças. Segundo casamento. São Paulo e tantas páginas da minha vida ficavam para trás. A beleza do lugar contrastava a ausência de laços e lembranças. Uma tela em branco, ainda sem moldura, definia meu mundo exterior, onde apenas a linha do tempo traçaria outro capítulo. Enquanto isso, eu era medo.


O oceano agora tão próximo, me levou para longe. Ver o mar! Quase um acontecimento! Litoral era sinônimo de férias! Recordo as viagens em que trocávamos a capital nublada pelas praias repletas! Todos "incolores" e num instante, avermelhados na pressa em bronzear a pele.


Como explicar a beleza daquele azul para quem o vê todo dia? Meu silêncio seria tão difícil quanto uma possível tradução. Por um momento vislumbrei a chance de reconhecer em meu caráter todas as nuances da coragem. Logo eu, sempre às voltas com a prudência, amante do amanhã, me deparava com a urgência do instante: conjugar o presente. Teria sido um presente? E se fosse, estaria preparada para abri-lo?


Nada parecia natural até que percebi o inevitável. Conduzir meus passos no mapa da minha nova estrada. Ser forte diante da sensação de estar acuada, como uma resposta instintiva, programada biologicamente. Pensei em Darwin: pura sobrevivência. Pensei em rimas. Precisava de rimas para oxigenar a vontade. Buscar salvação na poesia. De repente, o barulho das ondas me trouxe de volta para a praia de agora.


Caminhei em direção ao mar. Meus pés já molhados me fizeram pensar em um batismo. Sorri com esta tola idéia. E fui invadida por um desejo imenso de ser alguém que nem mesmo eu soubesse definir. Naquele exato instante, dividida entre a força do medo e da vida, decidi realizar meus traços e ser o que sou. Não o que sempre fui, mas o que me tornei: uma mulher ainda desacostumada à luminosidade de um lugar ensolarado.


Voltei para a casa sem pressa. Tinha todo o tempo do mundo.




(*) IMAGEM: Google


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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 20/10/2009
Alterado em 21/10/2009
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