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ESTRANHOS ÍNTIMOS
Alice passou a voltar mais tarde para casa. Nos últimos tempos, seu marido parecia ter pendurado uma placa no pescoço onde se lia: "Não perturbe". O distanciamento entre eles levou-a a aceitar o convite de intercâmbio que sua firma programara. Um mês fora do país — em plena crise do casamento — poderia ajudá-la a refletir sobre seus desejos. Talvez Maurício também pensasse melhor a respeito dos dois.
As quatro semanas de viagem passaram num piscar de olhos. Quando Alice se deu conta, estava colocando a chave na porta de casa. Exausta, largou a bagagem no meio da sala. Ao entrar no quarto encontrou o marido dormindo ao lado de outra mulher.
— O que é isto?
Ela repetiu a pergunta num tom estridente, enquanto o casal assustado puxava o lençol sobre os corpos nus. Aquele homem — com quem dividira a vida por cinco anos — encarava a esposa como se nunca a tivesse visto.
— Quem é você? Como entrou aqui?
A reação do marido a atingiu como um soco no estômago. Teve a impressão de que o quarto girava em torno dela deixando tudo fora de foco. A terra se abriu sob seus pés, e Alice perdeu os sentidos. Ainda na cama, o casal começou a discutir.
— Juro que não conheço esta mulher. Vou chamar a polícia.
Alice recobrou a consciência ao som de uma sirene. Sua cabeça latejava. Tentou levantar-se, mas sentiu o corpo grudado ao chão. No canto do quarto, o homem de cueca branca falava com um policial. Em segundos, um filme passou diante dos seus olhos: do primeiro encontro com Maurício à solidão sob o mesmo teto até restar apenas o vazio. Naquele exato instante, Alice não sabia mais quem era o homem seminu, nem o que ela fazia ali.
(*) IMAGEM: Google
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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 08/09/2014
Alterado em 15/09/2014
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