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BRIGITE NO DIVÃ
Brigite caminhava empurrada pela secretária:
— Vamos, vamos, o doutor é muito ocupado.
A mulher fechou a porta deixando Brigite sozinha no meio da sala. Ainda confusa, ela não demorou a reconhecer o divã, embora não tivesse a menor ideia de como chegara ao consultório do pai da psicanálise. Ansiosa, pensou em voz alta:
— Freud, explica?
Não houve resposta. Pelo menos, não ouvia vozes. Ao virar-se para sair, Brigite arregalou os olhos diante da inesperada visão: Freud olhava para o divã sem dizer uma só palavra.
— Devo deitar ali?
A pergunta de Brigite soou ridícula. E o silêncio de Freud, um enigma. Por que ela não saía correndo daquele lugar? Ainda que desejasse ir embora, seu corpo moveu-se em outra direção. Agora lá estava Brigite, deitada no divã. E Freud, sentado atrás do móvel. Era um absurdo fascinante imaginar que ele pudesse escutá-la. O que poderia contar? Logo ela, uma mulher tão desinteressante.
Para sua própria surpresa, Brigite inventou uma história com tantas reviravoltas, que nem mesmo ela resistiu à emoção. Com a voz embargada, e uma lágrima aqui, outra ali, terminou seu relato fantasioso. A culpa veio em seguida: ela não passava de uma cínica mentirosa. Sentiu uma vergonha quase infantil. Por um brevíssimo instante teve a sensação de que Freud descobrira tudo. E então ele disse:
— E, agora, Brigite, conte-me de você.
Na semana seguinte, Brigite começou a terapia com um analista menos famoso.
Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 16/03/2015
Alterado em 16/03/2015
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