CAMINHOS CRUZADOS
— Você não é a moça dos livros?
Ao ouvir a voz mansa atrás dela, Alice teve a sensação de reconhecimento que experimentara na semana anterior, quando o sujeito a abordou na livraria. Um tanto desajeitada, ela girou o corpo ficando frente a frente com Gustavo que sorriu e disse:
— Desta vez a gente podia se apresentar.
Alice desviou o olhar ao falar seu nome. Agora, lado a lado, os dois continuaram a caminhar no parque. A naturalidade de Gustavo contrastava com o ar embaraçado de Alice. Ele contou um pouco de sua história: arquiteto, louco pela Itália, divorciado e sem filhos. Seu casamento durara apenas dois anos.
No exato instante em que Gustavo falava do fim da relação amorosa, Alice pensou em Antonio. Outra vez, Antonio. Até quando o homem que amara invadiria seu pensamento? Era irritante e, ao mesmo tempo, inútil tentar apagar sua imagem dentro dela.
Na saída do parque, Gustavo sugeriu:
— Que tal um café? Eu adoro essa cafeteria da esquina.
Talvez por não esperar o convite, ela parecia assustada e ele riu:
— Calma. É só um café.
Alice que sempre fora arisca e reservada, olhou para Gustavo sem saber por que não o deixara falando sozinho quando o viu, pela primeira vez, na livraria. Por que ela ouvia aquele homem que apareceu do nada? E, sobretudo por que aceitara o convite? Mesmo sem entender coisa alguma, lá estava Alice, a um passo da cafeteria repetindo para si mesma:
— É só um café.
NOTA DA AUTORA:
ESTE É O SEGUNDO EPISÓDIO DE UMA PEQUENA SÉRIE DE CONTOS.
PARA MELHOR COMPREENSÃO DA HISTÓRIA, LEIA TAMBÉM:
ACONTECEU NO ÚLTIMO INVERNO
https://www.recantodasletras.com.br/minicontos/7368572
(*) IMAGEM: JULIE DELPY E ETHAN HAWKE
"ANTES DO POR DO SOL"
DIREÇÃO: RiCHARD LINKLATER
https://dolcevita.prosaeverso.net