"Ana fazia diferente". "Ana adorava isso". "Ana detestava aquilo". No início, Clarice tentara lidar com a sombra da primeira esposa de Márcio. Ele a perdera em um trágico acidente. No entanto, com o passar do tempo, o marido permanecia refém: a lembrança viva de Ana pairava pela casa como uma névoa espessa. E cada vez que Márcio mencionava o nome de Ana, Clarice se apagava um pouco mais até tornar-se quase invisível para seu marido.
Numa noite abafada, sem conseguir dormir, Clarice desceu para beber um copo de água. O silêncio da casa era quebrado apenas pelo tique-taque do relógio que pertencera à primeira esposa de Márcio. De repente, um vulto surgiu no meio da sala. Era ela: Ana parecia ainda mais real do que Clarice.
— Não se assuste — disse Ana. Sua voz soava firme, mas serena.
Clarice mal conseguiu balbuciar:
— O que você quer?
Lentamente, a primeira esposa se aproximou, seus olhos fixos em Clarice, como se conseguisse ver através dela.
— Conversar. Nós duas somos fantasmas nesta casa.
ME SIGA NO INSTAGRAM:
@dolcevitacontos