O fuso horário não mente: cinco horas de diferença. Se ligasse naquele instante, o acordaria. Mas não consegui me conter. Fiz a ligação. E desisti antes do terceiro toque. Senti medo de assustá-lo com meu afeto. Medo de ser demais.
O celular vibrou em resposta. Meu coração também.
— Você ligou.
A voz dele tinha essa espécie de poder de despertar minha alegria: era assim desde o primeiro instante em que o ouvi. Dos sustos, o mais doce.
— Sim… Mas tive medo de te acordar.
Ele riu, e eu protestei:
— É verdade!
— Você tem uma maneira muito particular de expressar seus temores.
— Estava ansiosa demais.
— Quer saber se recebi a tela? Chegou ontem.
— E o que achou?
— Você sabe que gostei.
Respirei fundo antes de confessar:
— Comprei na manhã em que você desembarcou no Brasil. Teríamos tão pouco tempo e então eu vi que…
Ele me interrompeu em tom irônico:
— A vida é injusta.
Sorri, antes de emendar:
— Sabe qual é o título da tela? Um dia ao seu lado.
Houve uma breve pausa antes da pergunta dele:
— Tem certeza que o título é este? Só ela aparece na tela.
Por alguma razão, naquele momento me dei conta de que a minha saudade não teria fim. Retruquei:
— É sim. Olhe outra vez: agora ela não parece tão só.
Ouvi o clique do interruptor ao longe. Ele acendeu a luz do quarto. Fechei os olhos e quase pude vê-lo ali, de pé, diante do quadro que mostrava uma mulher que se vira para trás como se alguém a tivesse chamado. Um profundo brilho iluminava o seu olhar.
E então a voz dele atravessou a distância entre nós:
— Te levo sempre comigo.
E a verdade era tudo o que eu queria dizer:
— Você está dentro de mim.
INSTAGRAM:
@dolcevitacontos