Felipe, meu melhor amigo, sempre me contou histórias sobre as aventuras dele e do primo em Paris. E eu ouvia tudo absolutamente encantada — passar as férias na capital francesa lembrava uma festa interminável.
Alguns anos mais tarde, Felipe e eu nos formamos em Arquitetura, e organizamos um jantar para os amigos mais íntimos. Para minha surpresa, o primo francês viria ao Brasil passar duas semanas. Jean Pierre era filho da tia de Felipe com um parisiense.
Eu já conhecia tantas histórias dele, mas nunca havia visto uma foto do sujeito adulto. Por alguma razão inexplicável, tinha guardado na memória uma imagem antiga e desfocada, onde mal se via o rosto do menino francês. Ainda assim, desde que vi aquela foto, tive a estranha sensação de que ele já habitava algum canto da minha alma. Como se, de alguma forma, eu estivesse ligada a ele.
O restaurante reservou um salão ao fundo para nosso jantar de formatura. Cheguei atrasada porque o pneu do meu carro havia furado e, apressada, entrei no salão sem perceber um degrau. Tropecei e fui parar direto no colo do primo francês, que estava sentado na ponta da mesa.
Senti o calor do corpo dele e o cheiro amadeirado de seu perfume. Dei um gritinho que soou mais ridículo do que minha queda. Jean Pierre sorriu e disse:
— Oi!
Simplesmente oi.
E o tempo parou ali. Eu não ouvia mais as risadas dos meus amigos em volta da mesa, nem o burburinho do restaurante, nada. Meu olhar ficou preso no dele: Jean Pierre tinha os olhos mais bonitos que eu já vira. Verdes. E brilhavam tanto, tanto, tanto.
Então, ele repetiu, ainda sorrindo:
— Oi!
E eu já estava pronta para me mudar para Paris.
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