Tudo começou com um encontro casual numa cafeteria. Eu havia esquecido meu casaco lá e voltei para pegá-lo. Gabriel, dono do café, era jovem e bonito.
— Tem certeza de que não deixou em outro lugar?
— Sim. Deixei naquela mesa, onde agora está sentado o cara de agasalho azul.
— Vou falar com ele.
Esperei no balcão, observando Gabriel se aproximar do cliente. Eles trocaram algumas palavras, ele apontou discretamente na minha direção. O sujeito olhou, sorriu e fez um gesto vago, como quem não fazia ideia do que estava acontecendo.
Quando Gabriel voltou, eu já sabia que não adiantava mais procurar: meu casaco havia sumido. Talvez para compensar minha frustração, ou apenas por gentileza, ele disse:
— O chocolate quente é por conta da casa.
Em outros tempos, eu teria simplesmente saído. Mas havia algo no olhar de Gabriel que me fez ficar. Quando percebi, havia duas xícaras de chocolate sobre a mesa. A conversa foi se alongando, alongando, alongando, até que ele perguntou:
— Você gostava muito daquele casaco?
Casaco? Sorri antes de responder:
— Nem me lembrava mais dele.
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