Heitor parecia assustado:
— Você não percebeu, Carol?
Ela franziu a testa, sem entender a pergunta. Olhou em volta: as mesas estavam quase todas vazias. Naquele horário, dava pra tomar um café e comer um sanduíche sem disputar a atenção do garçom.
— O que eu deveria ter notado?
— Tem alguma coisa muito estranha nessa cafeteria. As pessoas que vêm aqui ficam esperando por outras que nunca aparecem.
Carol riu, imaginando a teoria mirabolante que seu amigo inventaria.
— Posso saber como você descobriu isso?
Heitor inclinou levemente o tronco, como se quisesse chegar mais perto:
— Na última semana, estive aqui mais cedo, todos os dias. Fiquei naquela mesa lá do canto e vi a cena se repetir: as pessoas chegavam, ocupavam as mesas e ficavam esperando, mas ninguém aparecia. No começo, pensei que fosse coisa da minha cabeça, mas, no terceiro dia, percebi que nada mudava: as pessoas aqui esperam por alguém que nunca vem.
Carol achou que tudo não passava de uma impressão equivocada. Talvez ele observasse tanto os outros para se distrair do que sentia. Desde que o relacionamento de Heitor com Camila não dera certo, ele tentava se convencer de que estava melhor sozinho. A atitude de Heitor evidenciava como ela e o amigo eram diferentes.
E, então, brincou:
— Será que não é você que está querendo esperar alguém?
Heitor fingiu não notar a provocação e apontou para uma mesa próxima à entrada:
— Veja a mulher que entrou agora. Ela olhou o celular duas vezes antes de se sentar. E vai continuar a fazer isso até ir embora, sem que ninguém apareça. Quer apostar?
Não. Carol não queria apostar. Na verdade, começava a acreditar no que o amigo dizia, porque a tal mulher parecia angustiada, olhando insistentemente para a porta e para o celular. Uma hora depois: ninguém apareceu.
Heitor e Carol continuaram ali, observando pessoas entrarem e se sentarem, sempre à espera de alguém que não chegaria.
— Será que só nós dois não estamos esperando ninguém?
A pergunta de Heitor fez Carol pensar em Daniel. A paixão mais intensa que viveu. E que não iria se repetir. Há quanto tempo ela ainda esperava que ele a procurasse, depois do término do namoro? Um ano? Mais. Quase dois.
Naquele instante, a estranha história da cafeteria parecia fazer sentido.
Em algum canto da alma de Carol, ela ainda esperava por alguém que nunca mais viria.
Nunca mais.
@dolcevitacontos