DOLCE VITA
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Isabella deu uma última olhada no espelho. Nada de muita maquiagem. Samuel dissera que gostava de sua beleza natural. O primeiro encontro, num restaurante italiano, foi muito melhor do que poderia imaginar. Ele era um cavalheiro, daqueles que deixam uma mulher com um sorriso permanente no rosto.

 

Quando a campainha tocou, Isabella sentiu o coração acelerar: será que ela já estava se apaixonando? Antes de abrir a porta, respirou fundo. E então prendeu a respiração de novo, ao levar um susto: ao lado de Samuel, havia uma senhora de cabelos ruivos e olhos azuis. Os mesmos olhos azuis do cavalheiro que a fizera sonhar nos últimos dias.

 

Isabella não sabia o que fazer. Muito menos o que falar.

 

Ele se adiantou:

 

— Essa é a minha mãe.

 

A mulher entrou no apartamento dizendo:

 

— Meu nome é Gabriela, mas pode me chamar de Gabi.

 

Isabella fechou a porta e virou-se para os dois:

 

— Que surpresa.

 

A mãe de Samuel a encarou:

 

— Eu acompanho o Samuel em todos os segundos encontros dele. Assim a gente economiza.

 

Isabella imaginou ter escutado errado.

 

— Economiza?

 

Gabi não parecia ter pressa para responder. Com um brilho intenso no olhar, observava a decoração da sala, prestando particular atenção aos porta-retratos da família de Isabella.

 

Samuel interveio:

 

— Eu posso explicar.

 

Mas não explicou. Gabi o interrompeu:

 

— No segundo encontro dá pra saber se você é ou não a mulher certa pro Samuel. E quem melhor do que eu pra atestar isso?

 

Por um momento, Isabella pensou que aquilo era uma brincadeira. Todos cairiam na gargalhada. Mas a graça não aconteceu. E ela decidiu falar francamente:

 

— Eu diria que a única pessoa que pode decidir isso é o próprio Samuel.

 

Ela o encarou:

 

— Você não acha?

 

Se pudesse, Samuel teria afundado no sofá. Desde que ficou viúva, sua mãe passou a se concentrar inteiramente em sua vida. Por ser filho único, ele não conseguia diluir tanto interesse. Tentou abrir a boca mais uma vez, em vão. Sua mãe falou por ele:

 

— Querida, eu não tenho nada contra você. Até agora estou achando que é bem melhor que as últimas quinze.

 

Quinze?

 

O número piscava no pensamento de Isabella como uma placa de neon.

 

— Mãe!

 

Finalmente, Isabella ouviu a voz de Samuel. Gabi riu:

 

— Nossa, essa minha mania de economizar… Na verdade foram…

 

Fez uma conta com os dedos. O esmalte vermelho intenso contrastava com sua pele muito clara.

 

— Trinta e seis. Você é a número trinta e sete. Foram dois anos. Dois longos anos tentando encontrar alguém que mereça meu Samuelzinho. Mas até aqui você está indo bem.

 

O clima na sala não poderia ser mais embaraçoso. Samuel quase enterrado no sofá. Vez ou outra, buscava no olhar de Isabella alguma cumplicidade — mas só encontrava sua cara de espanto. E, no meio dos dois, Gabi.

 

— Eu adoraria beber um bom vinho tinto agora. Você pode me servir?

 

Isabella não conseguia acreditar que estava vivendo o pior segundo encontro da sua vida. Talvez o vinho fosse a única boa ideia daquela noite.

 

Na terceira garrafa, Samuel adormeceu no sofá.

 

Gabi contava a história de seu casamento, que durou trinta anos, nos mínimos detalhes.

 

E Isabella ouvia encantada sua futura sogra.

 

Trinta e sete era o número certo.

 

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Enviado por Dolce Vita em 09/04/2025
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