A fila para pagar as compras do supermercado estava imensa, com apenas um caixa funcionando. Lorena já estava impaciente quando ouviu a voz mais bonita que já escutara dizer atrás dela:
— Do jeito que isso tá demorando, vou contar a história da minha vida pra você antes de ser atendido.
Ela se virou sorrindo — e levou um susto. O sujeito era a cara de um antigo amor platônico. A estranha semelhança parecia coisa de filme.
Por um momento, os dois ficaram em silêncio. Lorena, com a imagem de um amor idealizado de tempos atrás. E o sujeito, observando o semblante dela.
— Eu te assustei?
A voz outra vez. Lorena não saberia explicar o encantamento fulminante que sentiu ao ouvir aquele homem falar. E como se isso já não fosse intenso demais, ele se parecia tanto com alguém que marcara sua vida. Ainda surpresa, disse:
— Se eu contasse, você não acreditaria.
— Tente. Temos todo o tempo do mundo. — Ele sorriu, apontando a fila gigantesca.
Como ela poderia contar? O sujeito pensaria que Lorena não passava de uma tola. Uma romântica incurável. Mas se ela não contasse tudo?
— Você me lembra alguém. Só isso.
Ele riu.
— Nunca é só isso.
Talvez fosse o tom com que aquele homem falava. Talvez fosse o jeito tão familiar que a fazia se sentir em casa. Talvez fosse a voz dele que ecoava dentro de Lorena como uma carícia que derretia, aos poucos, sua resistência.
Naquele exato instante, Lorena sentiu uma vontade incontrolável de contar a verdade. E contou, antes mesmo de saber o nome do sujeito.
Ele ouviu tudo em silêncio. E quando Lorena terminou seu relato, o sujeito disse:
— Algumas histórias parecem sonho, ficam só na imaginação. Mas o bom da vida é viver.
A voz dele era quase um feitiço. Sem se dar conta, Lorena respondeu:
— Quem sabe agora eu vivo outra história…
O homem sorriu, antes de retrucar:
— Algo me diz que você já está vivendo…
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