Na vitrine da pequena loja de esquina, objetos extravagantes se espalhavam entre plumas coloridas, mas o que se vendia ali ia muito além da excentricidade. O proprietário do lugar oferecia algo indescritível: experiências virtuais de desejos impossíveis. Para embarcar nessa viagem, o cliente tomava uma xícara de uma bebida adocicada, de tom azul profundo, e então mergulhava em uma espécie de sonho — com os olhos bem abertos.
Victor Hugo, dono da loja, era o único responsável pela receita da bebida azul. Os ingredientes secretos passavam de pai para filho havia gerações.
No fim daquela tarde, um dos clientes mais assíduos entrou, com o semblante visivelmente abatido. Victor Hugo apontou para a poltrona:
— Alfredo, sente-se. O que houve?
O homem acomodou-se na poltrona de veludo verde. Naquele móvel confortável, de textura tão macia, ele viveu fantasias memoráveis. Deu a volta ao mundo — como esquecer os lugares paradisíacos? As belas mulheres ao seu lado? A alegria de estar onde, como e com quem quisesse? Os carros, os relógios, as roupas… Tudo era perfeito. Mas, depois de tanto tempo nessa roda-viva de prazeres, as sensações haviam mudado.
— Quando comecei a realizar meus desejos impossíveis, imaginei que encontraria a maior felicidade.
— E não encontrou?
Por um breve instante, Alfredo permaneceu em silêncio. Então, respirou fundo e murmurou:
— O que vem depois da felicidade?
Victor Hugo respondeu com outra pergunta:
— O que você está sentindo?
— Vazio. Acho que vivi todos os meus desejos.
Num gesto ágil, Victor Hugo bateu palmas antes de retrucar:
— Hora de experimentar a bebida violeta. Ela cria novos desejos depois do vazio.
Alfredo franziu a testa.
— E quando a bebida violeta deixar de funcionar?
Victor Hugo esboçou um sorriso.
— Alfredo, Alfredo… há mais cores de bebidas aqui do que você pode imaginar.
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