DOLCE VITA
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ACONTECEU NAQUELA NOITE
 
 
Ela não tinha vontade de voltar para casa. Talvez por isto Júlia fosse sempre a última funcionária a sair do escritório. Mesmo sem fome, ela se obrigava a mastigar a comida insossa do pequeno restaurante, no meio do caminho entre o trabalho e seu apartamento.

Sentada perto da janela, Julia passava horas observando as pessoas. Após o jantar, ela não se movia. O dono do estabelecimento não estranhava mais. E deixava outra xícara de café e dois biscoitinhos em sua mesa. Naquela noite, porém, ela saiu do restaurante, antes que o proprietário exercitasse a habitual gentileza.

A chuva forte dera uma trégua. Enquanto caminhava pelas ruas molhadas, Júlia sentiu a aproximação de alguém. Ao invés de apressar-se, ela seguiu ainda mais lentamente. No exato instante em que o desconhecido passou ao seu lado na calçada, Júlia segurou o braço do sujeito.

O homem virou-se surpreso:

— Você me conhece?

Sem acreditar no que acabara de fazer, ela disse:

— Não, mas eu gostaria muito.

Ele não permaneceu em sua vida por um longo tempo, nem diluiu seu vazio, mas a partir daquele encontro, Júlia não seria mais a mesma mulher.


 
(*) IMAGEM: FOTO / VIVIAN MAIER
 
Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 17/11/2015
Alterado em 17/11/2015
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