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O CASO DA SENHORA J
 

 
 
Os olhos da senhora J percorreram a sala com certo desdém, enquanto Horácio confirmava os dados pessoais de sua nova cliente: uma mulher bonita e bem vestida. Girando a caneta entre os dedos, o detetive pediu que ela contasse sua história.

Casada há oito anos com um romancista, desde o início da vida conjugal, o marido revelara-se mais interessado em escrever seus livros. O vazio não demorou a se instalar entre eles. Horácio quis saber por que ela não pedira o divórcio. A senhora J disse apenas que ainda não era hora para pensar nisto.

No inverno do ano anterior ela iniciara um relacionamento com um artista plástico italiano, que voltaria a morar em Roma em três semanas. A cliente desejava contratar Horácio para que o detetive registrasse os últimos encontros do casal.  As fotos teriam as mesmas características de mais um caso de adultério investigado pelo seu escritório. O artista plástico aceitara colaborar com a farsa dos flagrantes porque deixaria o país em alguns dias.

Horácio ainda tentava entender o plano de sua cliente:

— O que a senhora fará com as imagens?

A senhora J pretendia colocá-las dentro dos livros que seu marido escrevera. Seria apenas uma questão de tempo até que ele abrisse um deles, e encontrasse as fotografias com os seguintes dizeres: "Enquanto você criava suas histórias, eu vivi as minhas.".




 
(*) IMAGEM: ANITA EKBERG
 
Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 30/05/2016
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