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PRIMAVERA EM PRETO E BRANCO 
 
 

Ary Cardos apresentou-se ao eleitorado dizendo não ter a menor ideia do que faria, caso fosse eleito presidente da Absurdia. Segundo o candidato do Movimento Novíssima Antiguidade, nenhum político sabia lidar com o poder. Por isto, discutir planos de governo era uma grande farsa. O alerta aos absurdianos viria, sem qualquer constrangimento:

— Não esperem nada de mim. Mas aguardem tudo. 

Durante o debate dos presidenciáveis, Ary Cardos conquistou muitos eleitores ao afirmar que entre "ser ou não ser: eis a questão", decretaria um rodízio para o dilema de Hamlet.

— Um dia eu sou, outro não. 

E assim, Ary Cardos tornou-se a voz daqueles que desprezavam a coerência. Seus fiéis militantes sentiam vertigens, náuseas e tremores, sofrendo crises de abstinência, se o candidato não falasse algo estapafúrdio, pelo menos uma vez ao dia, nas redes sociais. 

O fim de setembro anunciou a primavera em preto e branco de Absurdia, e o resultado oficial das eleições. Em um palanque abarrotado de bajuladores, Ary Cardos fez um brevíssimo discurso da vitória:

— No meu governo, a verdade não existe. E isto é uma verdade. Agora chega de filosofia. O jogo começou. 

Na plateia, os seguidores histéricos gritavam o nome do presidente eleito. A política em Absurdia nunca mais seria a mesma.


 
(*) IMAGEM: PETER SELLERS

"DOUTOR FANTÁSTICO"

DIREÇÃO: STANLEY KUBRICK


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Enviado por Dolce Vita em 09/09/2021
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