DOLCE VITA
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Meu Diário
09/04/2012 15h10
UMA SENHORA IRONIA: MICROCONTO




– Anote aí, Afonsinho sempre gostou dos filés mal passados. Se quiser um casamento mais tranquilo do que o meu, não esqueça: à mesa ele é muito exigente. Fora dela, nem tanto. Afinal, casou conosco..

 


 

 

Publicado por Dolce Vita
em 09/04/2012 às 15h10
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08/04/2012 23h50
NADA FILOSÓFICO: MICROCONTO
 



 

 

 Ser ou não ser?
 Sei lá...





(*) IMAGEM: Google

http://www.dolcevita.prosaeverso.net

 

Publicado por Dolce Vita
em 08/04/2012 às 23h50
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28/11/2011 20h33
JÁ LI ESSE FILME

 


                                             



Em 2046Forrest Gump, mais conhecido como Batman, separou-se de Laura, a secretária interessada em seu dinheiro. As vinhas da ira fizeram-no jurar:

Meu ódio será sua herança.

Laura, uma gata em teto de zinco quente, apenas sorriu. No entanto, a bonequinha de luxo não sabia que o amante, morador da Cidade de Deus, sedento de sangue negro e ligações perigosas, escondia sua verdadeira identidade. À noite, no Moulin Rouge, transformava-se em Priscilla, a rainha do deserto, cansada de invasões bárbaras e cheiro de ralo.

Desde então, o discreto charme da burguesia na vizinhança nunca mais foi o mesmo.

Em plena lua de fel de seus corpos ardentes, um violinista no telhado e a professora de piano desejavam dançar o último tango em Paris, mas com a crise financeira de Wall Street, apenas tiveram uma noite de sexo, mentiras e videotape!

Do outro lado da rua, de salto altoKikaa mulher do tenente francês, berrava para seu marido, um homem meio esquisito: - Ata-me!

Sádico, ele respondia em forma de tortura: - A liberdade é azul!

E entre gritos e sussurrosa conversação exibia cenas de um casamento que, aos poucos, aproximava-se do match point:

- Nada me desagrada mais que mulheres à beira de um ataque de nervos!

E a declaração dela, em tom choroso:

- Todos os homens são iguais! Feios, sujos e malvados! Chega de amores brutos! E pensar em nós que nos amávamos tanto!

Restava refugiar-se em algum lugar do passado e sonhar de olhos bem fechados. Durante nove semanas e meia, a bela da tarde caminhou no labirinto do fauno para sentir o gosto de cereja e as asas do desejo.

Entretanto, não esqueçamos de Laura. Uma secretária de futuro que viajou para Casablanca para dar mais um golpe de mestre! Mas, na estrada da vida, sentiu uma atração fatal por um gigolô americano que havia entrado para o incrível exército de Brancaleone.

E, nesta história, a um passo da eternidade, eis que surge a juventude transviada! Os estranhos vizinhosFanny e Alexander, assaltados por ladrões de bicicleta, buscavam se distrair com uma laranja mecânica e um King Kong em miniatura. No entanto, a felicidade não se compra. Mas quem disse que do mundo nada se leva?

Enquanto isso, o paciente inglês, filho da noiva do poderoso chefão, hospedava-se no Hotel Ruanda, reduto dos incompreendidos e traídos pelo desejo. Da janela indiscreta de seu quarto, admirou as luzes da cidade na Central do Brasil. Pensou em Gilda (nunca houve uma mulher como Gilda!), na porta do Clube da Luta, dizendo:

Adeus, Lenin! Vou guardar para sempre o sétimo selo da sua coleção.

- Lenin?


Tentou lembrá-la que seu nome era Larry Flint, mas o povo era do contra mesmo! E bastou uma noite sobre a terra para sentir que nunca passaria de um estranho no ninho. 


(*) TODAS AS PALAVRAS EM NEGRITO SÃO TÍTULOS DE FILMES

 

Publicado por Dolce Vita
em 28/11/2011 às 20h33
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27/10/2011 23h42
TERCEIRA PESSOA DO SINGULAR

 


 

Na época de meus avós seriam cartas. A caixinha de metal na rua se mudou para a tela de um micro dentro de casa. O encanto poderia ter se esvaído, mas uma tela traz surpresas. E é sobre uma delas que pretendo falar por inúmeros motivos, mas, sobretudo porque algumas pessoas são definitivas. Não importa o tempo passado ao seu lado. Um dia, um mês ou uma vida.

Seu nome é Fernando e vejo o talento no trato da palavra desabrochar com uma vibrante energia, mas em seguida, a surpreendente maturidade surge clara. Como alguém tão jovem pode ser simples e denso? Leve e profundo? Não resta a menor dúvida: estou diante de um escritor.

Uma alegria, provavelmente compreensível apenas para quem também escreve, tomou conta de mim. E é uma alegria danada porque no fundo sabemos o que nos leva a escrever. E nem sempre a fonte é alegre, mas talvez justamente por isso, seja uma alegria ainda maior quando a palavra rompe a solidão sem sentido.

Queremos fazer sentido ao escrever. E esta procura, ancorada na palavra, solitária e muitas vezes estranha, parece se incorporar à nossa alma.

Com as palavras de Fernando li sua busca, fisgada pela rede que ele lança sem medo no mar de seus textos. Quando o leio, descubro que estou mergulhada em águas limpas. Posso ver com clareza seu mundo. Não há nada a esconder. A única isca é a palavra. Armadilha bem-vinda que me captura logo na primeira frase.

A palavra escrita de seus textos me levou a outras escritas e passamos a nos corresponder. Nossos textos agora eram diálogos. Diversas vezes me peguei a gargalhar diante de suas observações irônicas. É interessante perceber como a economia tem um papel fundamental no senso de humor. Fernando é econômico. Vai direto à jugular da graça. Resultado: muito riso. E tantas coisas para pensar.

A primeira vez que conversei com Fernando e trouxemos a palavra falada para este cenário, realizei a dimensão de sua grandeza. Poucas coisas têm meu respeito absoluto. Entre elas, inteligência, talento e dor.

Nada é mais triste que a dor desacompanhada de sinal de vida inteligente. O deserto do espírito de quem sente a dor e não a transforma é infinito. O oásis de quem a expressa, quase uma prece.

A beleza de Fernando encontra seu mais profundo ângulo na expressão de suas palavras. Como se fossem asas, voam rápido e vão muito longe, livres e indomáveis como seu espírito. Meus olhos passeiam pelos movimentos das imagens inspiradas na mais impressionante naturalidade.

Fernando é natural como só as pessoas singulares podem ser. Quem o lê, sabe. Quem escreve, confirma.

Publicado por Dolce Vita
em 27/10/2011 às 23h42
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27/10/2011 15h22
LA DOLCE VITA - FEDERICO FELLINI - A DOCE VIDA - ITÁLIA - 1960

 

 LA DOLCE VITA

FEDERICO FELLINI


 
 ATENÇÃO: 

ANTES DE INCIAR A LEITURA, AVISO QUE ESTE TEXTO ABORDA TODO ENREDO DO FILME



Se você não suporta textos longos, e não gosta de Federico Fellini, não desejo convencê-lo. Não imagino o afeto pelos caminhos racionais que nos levam a algo (ou alguém). Se assim fosse, nos apaixonaríamos apenas por pessoas (e coisas) possíveis.

Além disso, Fellini é paixão à primeira cena. Não adiantaria insistir. Você pode se tornar PhD no assunto, discorrer sobre a técnica, incluir o ponto de vista histórico, ressaltar os valores (ele fala de valores sem pudor), as metáforas, enfim, seu olhar pode ser impecável. 

Ainda assim, seria suficiente para gostar do cineasta italiano?

Denominar algo como "felliniano" é imprimir a marca do gênio em uma infindável tradução simbólica. E como o mestre é generoso, "A Doce Vida" deu origem a outro termo: "paparazzo" - que era o sobrenome de um personagem baseado no lendário fotógrafo Tazio Secchiaroli. Os "paparazzi" estão em toda parte. De Hollywood às ilhas gregas, Paris ao Rio de Janeiro. O que sugere a ideia da atualidade.

Meio século depois de seu lançamento (1960), escrever sobre "A Doce Vida" é constatar a questão atemporal da obra-prima, assim como sua permanente abertura aos olhares sobre ela. E por falar em tempo, o período retratado ali, mostra a distância daquela Itália devastada pela Segunda Guerra. Os italianos não desejavam mais se alinhar à crueza da realidade representada em algumas obras primas do neo-realismo, berço de onde emerge Fellini.

Estamos no tempo "americanizado" dos costumes. E isso se reflete no culto à imagem, onde a vaidade e o ego são transformados em espetáculos da modernidade. Mulheres endeusadas, carros que trazem o símbolo da velocidade, não apenas da máquina, mas do consumo e, talvez, de como nos deixamos consumir.

Entretanto nada é (ou foi) império por acaso. Roma teria mudado completamente ou a antiga e a nova Itália são faces que se alternam, como as nuances de seu protagonista, Marcello (Marcello Mastroianni)?

"A Doce Vida" nos convida a conhecer esse jornalista que retrata o mundo fútil e o vazio existencial de tudo que o cerca. Sua personalidade exibe facetas de vaidade, insegurança, mas também, traços de inquietude. Marcello, a maior parte do tempo, parece descontente, entediado, quase apático. O que sugere uma existência pautada no prazer momentâneo e na frivolidade.

Por outro lado, através da amizade com Steiner, vislumbramos um contraponto com a identificação de outros valores: família, carreira literária, ligação com intelectuais e outras artes.

Marcello não se envolve afetivamente com as mulheres. Sua ligação está no prazer inconsequente. A ausência de vínculos afetivos - apesar do "harém informal" em sua vida - poderá ser melhor compreendida quando conhecermos seu pai, num dos momentos mais simbólicos do filme.

O jornalista seria o alter ego de Fellini, em busca de um sentido para se expressar naquela "Via Veneto" da Sétima Arte? E quais os sentidos que podemos encontrar neste cenário?

Via Veneto não é um endereço qualquer. Local que abriga hotéis luxuosos e restaurantes caríssimos onde, dificilmente, se encontraria um romano, foi consagrado pela obra de Fellini como "o melhor lugar no mundo para se estar" devido, principalmente, à presença americana na Cinecittà. Outra curiosidade: é também o endereço da embaixada dos EUA.

Durante muitos anos, os turistas procuraram ali, literalmente, um lugar chamado "La Dolce Vita". Mais felliniano, impossível. Os italianos contam e se divertem. Há depoimentos sobre este fato em um documentário sobre Marcello Mastroianni, recentemente exibido em um dos canais Telecine, da TV paga.

Buscar "A Doce Vida" na Via Veneto seria como procurar a casa de Julieta em Verona? Bem, não exatamente. Lá existe uma casa para fins turísticos porque os italianos, além de bom gosto, tem muito humor! Quem quiser sonhar no pequeno balcão, em um beco próximo à arena de Verona, com uma bela escultura em bronze da personagem romântica de Shakespeare, certamente se encantará com o lugar.

Voltando ao filme. Não! Não me esqueci. Estou apenas tentando me inspirar na ironia que ronda o título e a obra. Um elemento que contrasta com a sensação melancólica.

A cena inicial transita entre o sagrado e o profano. E pode ser entendida de muitas formas. A imagem de Cristo transportada por um helicóptero sobrevoa Roma. Dentro dele, repórteres da imprensa sensacionalista e a figura do fotógrafo: o paparazzo. Em uma luxuosa cobertura, mulheres se banham ao sol e os repórteres tentam chamar a atenção. O símbolo religioso, ligado a onipresença, conecta-se de forma irônica e simbólica às lentes que estão em todos os lugares.

A crítica dos valores da religião católica, na qual Fellini foi formado, aparece em muitas obras e nesta, em especial, há duas cenas a destacar: Sylvia (Anita Ekberg), a atriz que desembarca em Roma, depois de uma entrevista coletiva (onde imita a célebre resposta dada por Marilyn Monroe sobre duas gotas de perfume para dormir), visita o Vaticano. Na Basílica de São Pedro, sobe as escadarias para olhar a vista. Seu figurino lembra as roupas de um padre.

No subúrbio a mídia arma um esquema sensacionalista para transmitir a suposta aparição de Nossa Senhora, vista por duas crianças. O tio delas concede uma entrevista bizarra dizendo que os sobrinhos viram a santa numa data do próximo ano. O repórter o corrige. E ele confirma: deste ano. As crianças dizem que viram novamente a santa e que ela só voltará se ali for construída uma igreja. O tumulto das pessoas desesperadas buscam milagres em meio ao trabalho de jornalistas e fotógrafos. Um deles, faz o sinal do Pai e em seguida, tira uma foto.

"A Doce Vida" propõe muitas questões. O sentido do tédio melancólico, a apatia emocional, seriam as marcas de um abismo de significações? Assim como o desfile de mulheres em torno de Marcello contrastaria seu vazio existencial?

A cena entre Sylvia e Marcello na Fontana di Trevi não seria o simbolo desse (des)encontro que mostra a solidão do sentido entre eles? A beleza da atriz é estonteante. A beleza de Mastroianni, um deus! A beleza da cena, incomparável. A beleza da fonte, indescritível. A música magnífica de Nino Rota é o som dessa beleza. E ainda assim, há tanta solidão ali.

Dentro da fonte, a fala de Marcello é deslumbrante, mas as palavras são ditas a quem não pode ouvi-lo nem entendê-lo. E ainda que a atriz compreendesse seu idioma, conseguiriam se comunicar? Não é à toa, que se tornou uma das cenas antológicas da história do cinema. E este é apenas um dos sentidos. Há tantos outros para desvendar.

Um dos momentos mais impressionantes desta obra é a capacidade de Fellini mesclar, do ponto de vista psicológico, ternura e frieza. O pai o procura em Roma. O jornalista poderia se reconhecer naquele homem em busca de algo que não irá encontrar. A doce vida não está na Via Veneto. E este homem não pode mais corresponder aos próprios anseios e passa mal. Ninguém sabe exatamente os motivos e Fellini apenas sugere. Diante deste filho que, na verdade, não o conhece, o pai não dialoga. Simplesmente vai embora. Mais uma vez, o contato não se estabelece. E as lacunas permanecerão abertas pelo que não foi expressado. E nem será.

A cena do desfecho com a namorada traz a agonia da comunicação contraditória, onde se fala algo para negá-lo em seguida. Até o limite. Os diálogos escancaram, mais uma vez, o abismo entre aquela que seria a pessoa mais próxima de Marcello, no entanto, é justamente ela quem menos conseguiu se aproximar do homem que amava.

O que ambos queriam (ou conseguiam desejar) da vida não era possível juntos.

A ausência do contato entre as pessoas permanece nas cenas da visita ao castelo, onde Madalena, a personagem da milionária interpretada por Anouk Aimée, tão entediada que necessita estímulo constante para sentir-se de alguma forma ligada à vida, em um dos momentos compara-se a uma propriedade que está vaga. Em outro, conversa com o personagem de Marcello, escondida atrás de uma parede para "confessar" que o ama e quer casar-se com ele. Ao mesmo tempo, outro homem junta-se a ela. E Marcello não pode vê-los. Não tem ideia do que aconteceu a Madalena. Fala sozinho. Ela não mais responde. Está nos braços do outro homem.

Fellini ainda nos reservaria o assombro diante do suicídio do amigo, Steiner, que antes, mata os filhos. Este personagem poderia representar a consciência de que mesmo sem a guerra, viviam o caos. E sua morte se transforma em um espetáculo da mídia.

No entanto, nada parece atingir Marcello. Por um momento, imaginamos que aquele trágico episódio poderia alertá-lo. Mas, alienado de si mesmo, retorna ao prazer e à fantasia escapista da noite romana. As cenas de uma festa desprovida de qualquer vestígio de alegria mostra a incapacidade da celebração. As emoções embotadas. Os personagens são vazios e tristes. E a representação de Mastroianni, magnífica do começo ao fim.

A última cena nos faz perder o fôlego. Muitos interpretam como o contraste simbólico entre a pureza e o abismo moral. Prefiro pensar nesse abismo em relação aos sentidos. Como entender (escutar ou reconhecer) alguém que tenta falar conosco, se nem mesmo nós sabemos mais quem somos?

 
 
Publicado por Dolce Vita
em 27/10/2011 às 15h22
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